Musica
Hope is the one real feeling that you can sense in the bottom
Hoje amanheci com o dia. As noites têm-me sido sempre inimigas, esta não foi, permitiu-me descanso… e amanheci novamente….
Recordo que sempre tive alguma dificuldade em definir as minhas emoções porque sempre foram contraditórias, ora sentindo-me pacificamente impaciente, ou calmamente nervosa… nunca pude descrever-me como alguém que se mantêm emocionalmente numa linha recta, como duas ou mais linhas ondulantes enquadrassem uma dança entre si, aproximando-se e afastando-se, mas quase nunca se tocando. Não vario entre um estado e outro, apenas como se tivesse varias pessoas diferentes dentro de mim, cada uma com um sentir diferente, com uma racionalidade, tanto oposta como debilmente discrepante.
Para quem me lê ou tenta compreender, percebo que seja difícil descortinar o que tento tantas vezes descrever. Em regra as pessoas optam por uma das linhas e correm-na na sua percepção, não indo muito além da mesma. Não sou, contudo, uma das linhas oscilantes, mas todas elas, e por essa razão me sinto tantas vezes desentendida. Não obstante, persevero em dar-me a conhecer, pois temo esquecer quem sou.
…este amanhecer trouxe-me uma nova inquietude. Enceto uma nova fase, porque não disponho de mais caminho evolutivo no trilho em que me encontro. Sei por onde devo seguir e estou segura do guião que desejo ver realizado na trama da minha existência. Sinto confiança nos meus passos, nos meus actos. Sei exactamente como desejo ver a realização de tudo o que me proponho. Esta segurança obtenho-a do que vislumbro concluído para trás. As recordações de vitórias anteriores, de alcances e triunfos completados permitem-me quietude nas minhas capacidades.
Contudo, mesmo sentindo o pacifismo que esta seguridade me anui, não deixo de estar agitada igualmente, pois sei que posso não encontrar as ferramentas que me ajudem na evolução que careço principiar. Pois, tendo certo que me encontro limitada fisicamente na minha aprendizagem, a memória não me ajuda, tudo o que estudo esqueço, coisas que sabia seguras na recordação perdem-se. Simplesmente, não sei levantar-me desta areia movediça que me envolve cada dia que passa.
Leio profusamente, tentando regenerar o que não sei se é passível de regeneração. Não temo, já não temo. Apenas me frustra a incapacidade, porque desconheço limitações, porque nunca as vislumbrei e nunca lhes cedi. Sempre me convenci que sou capaz de qualquer coisa a que me proponha. E continuamente me provei que conseguia, vitória atrás de vitória. Tantas vezes não conseguia em primeira-mão o que me propunha alcançar, mas, sem desistência, voltava a tentar e atingia o objectivo.
A segurança que sinto, não provém de sonho ou idealização, mas da experiencia concreta do já conseguido. Neste momento, a incapacidade física escurece-me o futuro. Receio esquecer-me de mim….perder-me no vácuo…
Congrego-me de pessoas que possam estimular a minha evolução, mas poucas são as que me trazem algo intelectualmente novo. Em regra são elas que me procuram para as estimular… e eu afundo nas areias que não cessam de me puxar para o vácuo. Por outro lado, é da interacção que tenho com as pessoas mais conhecedoras que eu, que se forma a minha frustração, pois houve alturas em que eu absorvia a informação que me prestavam e a retinha sem complexidades. Hoje nada permanece, tudo se escoa como se tivesse um cano aberto dentro de mim, por onde tudo escorre.
Contudo, a segurança do que desejo ver concretizado mantêm-se! Sei exactamente onde quero estar e consigo vislumbrar isso mesmo num futuro próximo.
Desta forma, sinto uma paz inquietante, pois sabendo que continuando no novo trilho que se me apresenta eu poderei realizar o que já antevejo, contudo, inquieta-me saber que a luta será mais desgastante ainda do que as anteriores.
O meu Peregrino mantém-se comigo incessantemente enquanto discorro estes pensamentos, sem nada me dizer, sorrindo-me apenas. Não lhe entendo tristeza no olhar como antes, sinto-o tranquilo e tranquilizante. A revelação da sua presença na minha vida tem sido iluminadora e acompanhante. Raramente me sinto só, mesmo que desacompanhada, sinto-lhe a presença permanente.
Em momentos de angústia, sei que me basta respirar, fechar os olhos, e sentir-lhe o abraço quente. Nesses momentos deixo-me envolver e oiço a melopeia que me canta baixinho.
Estou certa que, no dia em que entrar no vácuo, o canto dele será a ultima coisa que hei-de escutar.
Hoje o Realizador lançou-me tão voraz feitiço que ainda não estou recomposta.
Naquela divisão penumbrenta encontrei-te sentada, meio arcada num canto, indiferente e desabitada.
Os cabelos azeviches caíam emaranhados pelas costas delgadas, e os olhos mortiços, escuros como breu, enterravam anos de abandono e indiferença na face triste de criança que foi largada no tempo e no espaço.
Tentei buscar em ti um brilho de infância, uma candura de gesto… nada! Com arrepio reparei que da tua pele diáfana ressaltavam linhas, várias linhas de dor que infliges a ti mesma pela culpa que nunca deveria ser tua. E na ausência de amor, de carinho e de ternura, tu te mutilas vezes e vezes sem conta com a finalidade de embotar com a dor da carne, a dor que berra do teu espírito.
Os 12 anos de infância roubada gritam-te de todo o tecido que já não é maleável, que hirto está das mágoas perfuradas por pais que o nunca deveriam ter sido.
E assim eu te vi nas sombras, empedernida e riscada de traços e linhas e covas e ângulos de pedra que fazem de ti uma menina de mármore cuja rigidez regela ao olhar.
Em gesto desesperado toquei-te a face que indiferente se mantinha nos seus traços. A assistente social estava por perto e não pude chorar as lágrimas que tu deverias estar a chorar. Mas reparei que num momento me viste os olhos marejados daquelas que não jorravam.
Debaixo do meu abraço, junto ao meu colo não te sentia nem te ouvia. Queria poder aquecer este teu jeito de Menina de Mármore que ficou em ti e de ti não se solta. Queria partir a pedra que te tira a vida, mas que te mantém una com a pouca sanidade que ainda deténs.
Por fim dizes chamar-te Liliana, só Liliana. Não tens fome nem sede. Não sentes porque não tiveste direito a isso. O frio não te ataca. Só a minha presença a fazer-te estas perguntas que não queres responder porque já não tens voz. A outra senhora que está lá também devia sair para não te incomodar, mas sabes que agora viemos para ficar e tu ressentes-te com isso. Não queres mais perguntas, apenas queres voltar ao teu mundo onde a dor da carne embota a dor do espírito.
Two days passing by the hour
Her eyes were waiting on love to came back home
But wouldn’t be able to love another
She’s waiting on love to come back home
One night she lay down her head
Closed her eyes and dreamed on happy endings
Woke up in delirious cry
She’s waiting on her love to come back home
If you could only see her now
I wish you could...
Como antítese de mim mesma que sou, procuro a complexidade nos prazeres simples.
Desta feita, e como não podia deixar de ser, gostaria que o ano de 2009 me brindasse com mais e melhores sabores, as mais belas e doces cores e aromas que a natureza me possa proporcionar.
Gostaria, acima de tudo, que toda esta excelência fosse regada de companhia com conteúdo, sem frases feitas e lugares comuns, generosa da boa fé e do bem sentir.
Deste modo eu quero olhar-te a ti, 2009, nos olhos, e de sorriso aberto e espírito ébrio, ser tua anfitriã por mais 365 sublimes dias, carregados de 24 horas de extático reconhecimento.
Não sei se em anos passados o tive em divina excelência, mas tenho noção que de ti desejo muito mais... humildemente te peço: Dá-me!!
Com elevada consideração me subscrevo,
Cláudia Vaz Antunes ( a tua humilde serva )
Não sou pressa, não sou lentidão
Hoje sinto necessidade de escrever sem sentido, sem lógica alguma, sem tempo, sem espaço ou consciência… apetece-me escrever com as entranhas, com as vísceras, com o meu âmago.
Mergulho todos os dias na necessidade fisica de mais um abraço, de mais um gesto, de mais uma palavra suave...