quinta-feira, novembro 03, 2005

Um despertar

Acordei em sobressalto porque estava gelada. A janela do escritório fora deixada aberta e a lareira estava apagada. Um vento gélido por lá entrava juntamente com a chuva que me molhava as cortinas e o tapete. Corri a fechar as portadas, mas a rigidez das articulações fez-me cambalear e cair. Levantei-me, e aos tropeções empurrei-as contra o vento, fechando-as.
Olhando em volta, via o meu espaço outrora calmo e acolhedor transformado num vórtice desconfortável de desordem. Livros, revistas temáticas e outros papéis estavam espalhados pela secretária e pelo chão. Na estante dos autores portugueses, cd’s de musica fora das caixas, aguardando que os levasse a serem tocados, e, a escuridão da ausência do meu Forasteiro que, de fora ainda não regressou.
Pus uma manta pelos ombros e esfreguei os braços para afugentar a dormência da hipotermia, e fui à cozinha colocar a chaleira ao lume. -“Um chá de ervas vem a propósito!”
Enquanto aguardava a água ferver, passeei pela casa vazia, tentando recordar alguma atitude dele que me pudesse dar um sinal de quanto tempo terá esta ausência. Estou ciente que se entristeceu comigo por não lhe ter dado ouvidos da última vez, mas de forma alguma seria razão para tão grande abandono. Recordo a expressão quente dos seus olhos, e uma outra, mais humana, que não sei decifrar. Depois disso, desapareceu!
O silvo da chaleira retira-me destes devaneios.
Com a chávena de chá aromático e fumegante nas mãos, envolvo-me melhor na manta e saio para o terraço. O vento faz-se sentir gelado, mas tenho que despertar das minhas quimeras, tenho que saber viver sem muletas, e o Peregrino não é, certamente uma muleta, mas sim… o quê?!! É o meu Peregrino, não tem outra definição… é a minha Luz! Uma muleta para me ajudar a viver, jamais!!! E foi esta definição que lhe dei nos dois últimos dias que comigo esteve. Deixei-o ficar mal, deixei-me ficar mal. Tenho conhecimento para fazer melhor do que isto!
Regressei para dentro de casa, mas não fui para o escritório, nesse não voltaria a entrar até que ele lá tornasse para reacender o lume da lareira. Sentei-me antes na sala de jantar, em frente da mesa, a escrever no meu guião o futuro enredo que desejo ver acontecer numa página completamente nova, e em branco.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Rara, singular, excelente e preciosa... essa tua Luz.

4/11/05 08:41  
Anonymous Anónimo said...

as paginas, tanto na vida como nos livros, podem-se voltar, mas deixam sempre a marca de que foram tocadas!

17/11/05 01:33  

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