segunda-feira, outubro 31, 2005

Ausente III

Mais um dia e mais uma viagem a sós… As nuvens reúnem-se da cor do chumbo no céu, o vento sopra forte e avassalador, mas o frio só se faz sentir dentro de mim.
Depois de me ter habituado a ele, custa-me olhar em volta e não o sentir por perto. Esta neurose não teria qualquer sentido se não fosse a bagagem que trago daqueles dias, aqueles que ficaram lá atrás e que tenho dificuldade em desprender da recordação.
Nesses tempos, não tinha a felicidade de o ter comigo, todas as vicissitudes da minha rota eram sentidas a sós, e nunca partilhadas. Não por não ter com quem as partilhar, mas porque me sentia demasiado senhora de mim para nunca o fazer. Como seria de calcular, as malas foram-se enchendo de bagunças compactas que, mais tarde seriam difíceis, se não quase impossíveis, de separar e deixar ficar. Hoje tenho a perfeita noção de que, se o Realizador mo tivesse enviado mais cedo, circularia apenas com uma bolsa a tira colo.
Hoje consigo assumir que, para minha grande fortuna, o meu Peregrino veio até mim como se de um prémio se tratasse. É-me preciosa a sua existência na minha vida, até porque já faz parte de mim.
Não passa um minuto sem que eu lhe memorize o olhar, o sorriso, a voz, e o calor que sinto da lareira que mantêm acesa no escritório. É para lá que volto sempre que os elementos se enfurecem e sinto-lhes o frio.
O guião está parado, como se esperasse que alguém dele se aproximasse e nele escrevesse. Vou ter que continuar na minha contínua espera. Mas faço-o de costas direitas como o meu Forasteiro me ensinou.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

" Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela? Põe-na lá " já o dizia Vergílio Ferreira.

Um beijo fofo
Carlos

26/11/05 18:43  

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