quarta-feira, outubro 26, 2005

Só, dois passos!

Observo o meu Peregrino que tem andado apreensivo todo o dia. Pergunto-lhe o que se passa, mas ele evita-me o olhar.
Faço o que posso para retirar qualquer mensagem da postura do seu tronco, dos seus gestos, das suas mãos que nada me comunicam. Quando ele não deseja dar-me novas informações, eu sei que não adianta insistir. Mas não está na minha natureza ser aquela que aguarda pacientemente que as coisas venham ao seu encontro. Sempre me fiz ao caminho para buscar o que desejava alcançar, fosse um objectivo, uma informação, ou simplesmente uma palavra.
E ele nada me diz… não me olha, não me sorri, não me canta!
Devia ter parado no STOP, mas não vi os sinais. Tenho a idade e o discernimento para me aperceber quando devo fazer pausa, não seria a primeira vez que teria que a fazer, a pausa, mas estava distante desta realidade, numa outra que em nada me engrandece. Estava num país de sonhos onde tudo corre como eu desejo.
Como o nome indica, é o país de sonhos! E não me tem engrandecido porque, como me diz o meu Forasteiro, estou numa altura em que a minha realidade tem que me preencher a todo o momento, senão perco-lhe o rumo, e estarei novamente a precisar de me virar a oriente.
Logo que percebi que tinha dado dois passos à frente do STOP, ouvi-o sugerir-me futuras atenções relativamente a situações idênticas, mas logo que a preocupação do momento passou, esqueci o seu conselho.
Foi isso que o entristeceu, porque ele sabe que, se não o tenho em consideração, o meu trilho altera-se, e a caminhada aparta-se da programada.
Estou vazia, preciso de o ver sorrir-me novamente. Tento chamar-lhe a atenção com uma frase desculpante ou um pouco de humor, nada!
Sento-me ao seu lado e poiso-lhe a cabeça no ombro. Ele não me afasta, nunca me afasta! Ao invés, cobre-me os ombros com o seu braço comprido e beija-me os cabelos. O vazio preenche-se…
-“Que devo fazer?”- pergunto-lhe
Não vale a pena esperar pela resposta que eu já conheço.
E o sorriso abre-se.
Tenho que rever o meu guião, alterar-lhe uma ou outra personagem e o seu papel na trama, mas a linha mestra mantém-se inalterada e bem sustentada pelo argumento.
O Realizador continua sem me receber, mas eu já não me desanimo porque não me encontro só a experimentar todas estas novidades. Porém, não prescindo de lhe deixar mensagens.
Ainda terei que saber das consequências daqueles dois passos…