terça-feira, agosto 30, 2005

Reflexão

São onze e cinquenta e cinco da noite, do dia quatro de Outubro, do ano de mil novecentos e noventa e sete. Lembrei-me de começar a escrever esta tarde enquanto observava a natureza na sua mais pura magnificiência: encontrava-me à janela do meu quarto observando uma tempestade eléctrica, quando me pus a cogitar sobre o desconhecido, sobre o que se encontra mesmo em frente do nosso nariz e nós não queremos ver, ou por falta de sensibilidade ou conhecimento, que nós ignoramos ou queremos ignorar.
Muitas perguntas me ocorreram sem, no entanto, obter resposta directa. Dentro do que eu conheço ou penso conhecer, existem muitas teorias que, para mim têm muito sentido, mas, que se contrapõem umas com as outras sem no entanto se anularem. Perguntas que faço a mim mesma desde que me conheço e que ao longo dos anos as respostas que me são oferecidas me confundem mais.
Como começou o mundo, porque nascemos, porque morremos, de onde viémos e para onde vamos. Porque é que certas pessoas desenvolvem capacidades que, à luz da ciência são inexplicáveis, e qual o nosso papel neste grandioso palco que é o universo.
Dizem-nos que devemos ter fé e nunca duvidar dessa força superior a que chamamos Deus, contudo os próprios filósofos baseiam a sua técnica de autorreflexão no factor dúvida-“cogito ergo sum”- “Penso logo existo” como afirmou Descartes. Este grande filósofo dizia que, se o ser humano era capaz de duvidar, então era também capaz de pensar, e era no pensamento que fundava a bases de toda a existência humana. Mas não será a fé um produto de todos os dogmas que nos são incutidos pelas instituições desde a hora em que nascemos e tomamos consciência do mundo que nos rodeia? Posso afirmar contudo que Descartes era um homem de fé e crente em Deus como a igreja católica o definiu. Mas não nos ensinam que a dúvida destrói a fé? Então serei eu uma pessoa errante na minha consciência sem a noção nem o sentimento puro da fé? Tudo isto não passa da mais pura e conturbada retórica, mas eu respondo a mim mesma que, sim, encontro-me completamente perdida no mundo e em mim, duvidando do meu papel, ora sentindo a força interior a transbordar, ora sentindo tal fraqueza de espírito que não consigo erguer um raciocínio que, apesar de lógico, não me leva a lugar nenhum, sem saber se por falta de conhecimento, se por falta de vontade ou se por falta de força de carácter.
Em muitos lados procurei resposta ás minhas perguntas, já li, já estudei, já meditei, inclusive procurei médicos ou pessoas que se dizem entendidas nos mistérios do corpo e do espírito. Todos eles acreditam ou dizem acreditar piamente nas suas teorias, não demonstram quaisquer dúvidas a respeito disso, ou são demasiado orgulhosos para admitir a sua insignificância neste universo.
No entanto todas as suas teorias confluem para o mesmo princípio básico: que tudo na vida e na morte se rege por energias, umas positivas, outras negativas. Mas, o que são na sua essência essas energias? Démos-lhe nomes e identificámos segundo cada vez mais novos critérios, critérios esses que tendo origem no Budismo, nas leis da Física ou no Cristianismo aparentemente vão todos dar ao mesmo caminho, à mesma resposta objectiva sendo esta denominada de formas diferentes. A que nos levará este modo de ver as coisas, este modo de querer que a nossa verdade se sobreponha à verdade do nosso vizinho quando esta é a mesma só que chamada de forma diversa.
Desde o seu começo, o Homem tem como necessidade impreterível a sua afirmação, o seu desejo de se evidenciar perante o mundo e a natureza, sendo a sua primordial tarefa dominar esta última que tudo lhe oferece. Nesta forma de agir se destaca o gosto de fazer valer os seus ideais através da força, quer espiritual quer física, sobre tudo o que se encontra à sua volta. Desta mesma forma de agir surgiram ao longo dos anos as instituições políticas, religiosas e muitas outras que vieram ditar o modus vivendi que agora temos como correcto e verdadeiro aos olhos daquilo a que chamamos sociedade.